Era a minha vez de conduzir a entrevista. Eu estava há poucos meses naquela que seria a minha empregadora por mais 13 anos pela frente. Zero de experiência, mas muita vontade de aprender.
Na entrevista anterior, eu tinha participado como observadora e, em poucos minutos chegaria o próximo candidato. Enquanto esperávamos a chegada dele, trocamos nossas impressões sobre o filme “Homem Aranha”, que havia estreado nos cinemas.
Chega o candidato. E eu resolvi que ia ser criativa.
Eu sabia que fazer um quebra-gelo com o candidato era uma boa forma de começar. Mas eu achei que fazer as perguntas de praxe, como “tudo bem?”, “foi tranquilo encontrar nosso endereço” ou “tá calor na rua” era coisa para pessoas sem criatividade.
Eu resolvi começar a conversa com ele – do nada – perguntando se ele já havia assistido ao filme “Homem aranha” e qual a opinião dele sobre o filme.
Ele levou alguns décimos de segundos para entender a minha pergunta e respondeu, meio hesitante, que não, não havia assistido ao filme.
A partir dali, eu segui com a entrevista, que na minha opinião, pra uma primeira vez, até que correu bem.
No dia seguinte, minha gestora veio me procurar para falar sobre um e-mail que ela havia recebido e que ela queria entender melhor o que aconteceu. No e-mail, o candidato estava descendo o malho na empresa porque se sentiu extremamente desrespeitado e disse que nunca tinha visto um tratamento tão “anti-profissional” por parte de um entrevistador.
Quando eu ouvi aquilo, a minha vontade foi de me meter debaixo da mesa. Minha cara deve ter mudado de cor diversas vezes, pelo menos o calor que senti no rosto foi algo que não vou nunca esquecer.
Gaguejei minhas explicações, dizendo que também não havia sido uma coisa tão absurda, que eu só perguntei de um filme pra quebrar o gelo inicial da entrevista. A gestora entendeu e, acho que pela cara de terror que eu estava fazendo, foi até bem legal, dizendo que nem sempre nossas intenções são compreendidas pelos candidatos.
Definitivamente, minha “criatividade” não ajudou para quebrar o gelo para iniciar a conversa. Pelo contrário, gerou um desconforto enorme no candidato, a ponto de ele mandar uma reclamação que chegou à minha gerência. Excelente forma de começar, Adriana, muito bem!!
O que significa errar?
Depende: se você for buscar a origem latina da palavra, ela vem de ERRARE, que quer dizer “perder-se, andar sem destino, cometer uma inadequação”
Se você der um Google, vai chegar na descrição do dicionário Michaelis que, entre outras definições, afirma que erro é:
- Ação inadequada, resultante de um juízo falso.
- Desvio de uma regra de conduta estabelecida; desregramento.
- Conceituação imprecisa de uma ideia ou interpretação falha de um assunto, de um tema; inexatidão.
Mas erro é mais que isso, né?
Na opinião do Charles Watson, educador e palestrante, especializado em Processo Criativo: “erro é uma precondição do trabalho criativo”.
Para Carol Dweck, psicóloga e autora do livro “Mindset”, pessoas que têm o mindset de crescimento entendem o erro como oportunidades para aprender.
Eu prefiro seguir as definições da Carol, do Charles Watson e de outros pesquisadores. Já errei horrores na minha vida e, pensando no quanto aprendi nessas situações, resolvi iniciar esta série de podcasts, em que vou compartilhar situações de erro que levaram a algum tipo de aprendizado.
O que eu aprendi com o quebra-gelo para entrevistas mal sucedido, que aconteceu há mais de 20 anos, mas que eu ainda me lembro como se fosse hoje?
Uma entrevista é, na maioria das vezes, uma situação estressante para um candidato. Tem expectativa, tem o desconhecido adiante, tem aquele medo de não saber “as respostas certas”. Como entrevistadora, eu quero que um entrevistado dê o melhor de si na entrevista, que ele me dê motivos para que eu o aprove no processo. Os primeiros minutos são muito críticos e, se eu crio uma situação constrangedora logo no início, eu coloco em risco as chances de ver o melhor que aquele candidato tem a me apresentar.
Avaliando aquele “erro” agora, muitos anos depois, eu não acho que o erro foi ter usado um filme para quebrar o gelo. Eu errei no tom, na forma. Parecia que eu estava querendo pregar uma peça no candidato, trazendo uma pergunta inesperada. Existem entrevistadores e empresas que gostam dessa abordagem. Mas não é a nem minha e nem era o estilo da empresa em que eu trabalhava.
Eu já treinei um grande número de entrevistadores e avaliadores. Esse aprendizado me ajudou a mostrar para as pessoas que eu já treinei que o momento de receber o candidato e o quebra-gelo são muito importantes para o desenrolar de uma entrevista. E é o entrevistador que é o responsável por ajudar o candidato a ficar, na medida do possível, à vontade.
Embora este podcast tenha o nome de “Dicas para Workshops”, eu resolvi contar essa história aqui, que não é relacionada diretamente com elaboração ou facilitação de workshops, porque marcou muito o início da minha carreira em RH. Esse caso aconteceu há mais de 20 anos. De lá pra cá, muita água passou por debaixo da ponte, muitas pessoas cruzaram meu caminho e muitos – muitos mesmo – erros cometi. E eu espero que eles sirvam de aprendizado para você também, assim como foram pra mim.
Fica aqui meu convite pra você me acompanhar nos próximos episódios.!
A gente se vê!