Podcast série 2: Deu ruim, mas aprendi – Arrogante, eu?

Banana.

É um pouco do meu estilo. Tenho problemas com confrontação direta, deve ser algum trauma de infância, sei lá. Quem me conhece bem, sabe que eu tenho um estilo mais de escutar e tentar chegar a um meio termo em vez de sair batendo de frente. É muito difícil que eu entre de sola pra fazer valer a minha opinião. Aqueles que gostam de mim, chamam isso de tolerância. Os que não gostam, devem chamar de “bananice”.

Então, quando durante uma reunião com a minha gestora ela me falou que um diretor a procurou para falar de uma abordagem agressiva minha, eu quase ri e agradeci pelo feedback positivo.

Ela, que já me conhecia há muitos anos, também estava meio confusa e me pediu que eu lembrasse se algo havia acontecido durante um workshop que eu tinha entregue para a equipe dessa diretoria.

Era um workshop sobre avaliação de talentos. Para atender a um pedido da organização em que eu trabalhava, criei um material para avaliar candidatos de maneira a combinar uma avaliação comportamental e técnica. Tinha dado um trabalhão pra elaborar e ter o material aprovado. E havia chegado o momento de treinar os gerentes no uso da ferramenta, que viriam a ser os avaliadores para futuras contratações.

Eu tinha alguns poucos meses nessa organização. Estava chegando e entendia aquele como um excelente momento para me fazer mais conhecida diante desses que seriam meus pares, já que eu também estava atuando como gerente da área de Aprendizagem e Desenvolvimento.

Mas a coisa já não começou muito bem. Primeiro, porque eu tive que atrasar o início em mais de 30 minutos, porque nem todos estavam na sala no horário combinado. “Ok… as pessoas têm problemas e eu tenho como adaptar algumas atividades para não impactar a agenda do dia.” Num determinado ponto, dois gestores começaram a dispersar, lendo uma mensagem ou um e-mail que um deles havia recebido no seu smartphone.

E eu lembro muito bem o que eu fiz: baixou a “tia Teteca” lá do meu terceiro ano do fundamental e eu perguntei se “havia algum problema”. Lembrando agora, até ficou meio engraçado, porque, assim como eu virei a tia Teteca, eles viraram dois alunos de 9 anos. Me olharam com uma cara meio envergonhada e terminaram o papo.

Não fosse pela queixa que eu recebi dias depois, eu acho que nem lembraria disso. Eu meio que tive de fazer um verdadeiro exercício de “regressão hipnótica” pra tentar encontrar em que momento eu teria sido “arrogante”.

E, pelo meu relato, minha gestora confirmou que havia sido isso mesmo que tinha chegado a ela como uma queixa sobre o meu comportamento.

E eu ri. Porque, como eu disse antes, para ser arrogante, eu tenho que fazer um esforço considerável, porque o meu “modus operandi” é o estilo banana.

Mas o que eu fiz, mesmo tendo sido um comportamento pontual, foi errado. Eu até acho que eu já estava um pouco irritada pelo fato de eu ter começado o workshop depois do horário por conta do atraso dos participantes e acabei perdendo um pouco a paciência quando vi as pessoas conversando. Mas como facilitadora, eu não poderia nunca ter feito isso. Por quê?

Porque o objetivo maior de um facilitador em uma ação de aprendizagem é o aprendizado. E eu perdi a minha linha porque me senti pessoalmente ofendida com o comportamento disperso daqueles participantes. Aí está o erro.

Se o objetivo maior de um workshop é o aprendizado, quando eu atuo de uma maneira que gera algum tipo de constrangimento, esse objetivo vai por água abaixo. Pensa bem: os caras ficaram bastante irritados comigo e certamente aquilo comprometeu o aproveitamento deles. Se a minha reação tivesse sido mais dura (que não foi o caso, juro!), poderia ter gerado um impacto negativo também nos demais participantes e, o esforço que se estava fazendo ali iria deixar de valer a pena.

O foco deve ser no aprendizado e não nas suas necessidades como facilitador.

Uma estratégia para lidar com a tal conversa paralela é, em primeiro lugar, não entrar na pilha de que as pessoas estão sendo desrespeitosas ou que estão dando pouco valor ao que você está falando. Você precisa dar um reset na sua mente e montar outra história na sua cabeça. Quando você treina sua mente para redirecionar as suas crenças, fica mais fácil lidar com esse tipo de situação e aí você consegue lançar mão das técnicas para contornar o comportamento indesejado.

No caso de haver uma conversa enquanto você está apresentando um tema ou conduzindo uma discussão em grupo, você pode imaginar que s pessoas estão falando sobre algo que é relevante para o tema que está sendo tratado (às vezes é isso mesmo), ou aconteceu alguma coisa muito urgente que precisa ser tratada imediatamente (no caso dessa situação, depois eu fiquei sabendo quer era isso que tinha acontecido. Houve um problema sério com um cliente e os gerentes em questão estavam sendo acionados).

Eu participei há muito tempo de um curso de formação de facilitadores com uma profissional que era muito fera e ela me ensinou uma técnica pra esse tipo de situação que também é bem efetiva: ao perceber a conversa paralela, a tática é caminhar na direção da dupla e, sem olhar para elas diretamente, seguir a sua explanação dali. (Eu já tinha feito isso em outras ocasiões, mas naquele dia, sei lá, minha criança interior falou mais alto. Como eu disse, eu caí na armadilha de achar que eu estava sendo desrespeitada).

Outra coisa que se pode fazer é criar uma atividade em grupos. Por exemplo, fazer todo mundo levantar, trocar de lugar e fazer um brainstorming sobre como lidar com alguma situação relevante para o assunto que você está apresentando. Obviamente, os “conversadores” ficariam em grupos separados.

Essa situação me queimou um pouco diante daquela diretoria. Eu levei um tempo para reconquistar a confiança desses gerentes, mas, felizmente, tive outras oportunidades de estar com eles e acho que a maioria mudou um pouco imagem negativa que eu criei. Se não, acho até que ficou uma pontinha de “orgulho” de ter sido vista, nem que por 5 minutos, como prepotente e arrogante!