Podcast Habilidades de um Facilitador Virtual: Episódio 3 – Preparo

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Era um concerto importante, tanto pela grandiosidade como pelo local. Mas ele já havia se apresentado para públicos grandes em outras oportunidades. Artista experiente e preparado que era, ele não iria se intimidar só porque era no Central Park, em Nova Iorque, que seria mais uma etapa de sua nova tourné. Há um tempo, ele havia decidido maneirar um pouco no seu guarda-roupa de show, que era conhecido pela exuberância. Pra essa tourné, no entanto, decidiu recontratar seu antigo figurinista, a quem somente deu uma única recomendação: “faça o seu pior”. O concerto no Central Park teve um público de 500 mil pessoas e, especialmente para o bis de Nova Iorque, seu figurinista havia preparado uma roupa especial. Uma fantasia de Pato Donald, que ele simplesmente adorou.

Mas ele não fez o que no mundo artístico se chama de “dress rehearsal”, ou o ensaio com roupa ou ensaio geral. Só pra entrar na fantasia, foi uma eternidade… ele se enrolou todo: enfiou uma perna no local certo mas a outra no acesso para o braço. Quando finalmente retornou ao palco, ele se deu conta de que era quase impossível caminhar, porque nos pés tinha algo como nadadeiras de pato. Pra completar, quando tentou se sentar ao piano pra interpretar a primeira música do bis, quase caiu. A fantasia tinha um enorme traseiro de pato, que só permitia que ele se sentasse na beiradinha do banco. Ele, que já estava achando tudo muito engraçado, caiu na gargalhada e, diante de 500 mil pessoas, cantou, enquanto tentava – sem sucesso – controlar suas risadas, a canção que há 10 anos, o havia tornado um astro pop.

Eu acho que você sabe de quem estou falando, mas se você não sabe, espera mais um pouquinho. Eu vou abrir essa informação já já, porque o que importa nessa história é que ela ilustra o tema deste episódio: PREPARO, a terceira habilidade de um facilitador virtual.

Esta série se dedica a explicar as 4 habilidades de um facilitador virtual. Este é o terceiro episódio.  As outras duas habilidades, “agilidade técnica” e “presença”, eu já apresentei. Se você chegou agora, vale acessar meu podcast para ouvir sobre essas habilidades e ter uma ideia geral desta série.

Quando a gente assiste a um show de uma grande banda ou artista, é possível ver o domínio de palco que esses profissionais do entretenimento demonstram, passando uma sensação de que estão totalmente à vontade e – na maioria das vezes – se divertindo pra valer.

Aí, a gente pensa: ah, mas o cara tem talento ou muitos anos de experiência. Sem dúvida, pensando em grandes artistas, pra chegar onde chegaram, eles têm talento e experiência de sobra. Mas, antes de se tornarem grandes artistas, essas pessoas trilharam um longo caminho. E antes de entrar em cena para um show, existe uma série de preparativos dos quais a gente, que está só curtindo o espetáculo, não faz nem ideia.

Eu fui pesquisar um pouco mais sobre o que é necessário para um músico estar pronto para entrar em cena. Encontrei muita coisa, especialmente um artigo com uma lista de 34 itens de recomendações, que eu achei bem interessante. Eu vejo muita semelhança entre o que um facilitador e um artista fazem nos seus ambientes. Para mim, conduzir uma sessão presencial ou virtual é estar em cena, é dar um show.

Eu também tenho uma lista de coisas que você precisa providenciar antes de iniciar seu workshop, mas não vou torturar você com 34 itens. A lista que eu vou compartilhar com você é um pouquinho mais curta, tem 33 itens, kkk, não… to zoando… é bem mais curta, tem 6 itens… E, como nos outros episódios, foi inspirada no livro da Kassy Laborie, Interact and Engage… então, vamos comparar alguns itens de atenção para um artista antes de subir ao palco com o que é necessário para um facilitador estar preparado para um evento de aprendizagem.

  • Equipamento. Um artista precisa ter uma lista de todo o equipamento que vai usar em seu show: microfones, caixas de som, cabos e outras coisas. Ele precisa ter certeza de que está tudo funcionando 100%. O equipamento que um facilitador vai utilizar em uma sessão online consiste basicamente de seu computador, microfone ou headset, rede de dados e plataforma. Tudo isso precisa ser testado com antecedência para que não haja surpresas no meio de uma sessão.
  • Quem já teve a oportunidade de assistir a um show perto do palco, já deve ter visto a “set list”, que geralmente é um papel que fica no chão, onde estão escritas, em letras garrafais, as músicas que serão tocadas e sua ordem. Se a banda é grande, há mais de uma set list no palco, pra que todos possam saber o que vai ser apresentado. Você, como facilitador, precisa ter sua agenda (ou a sua set list) ao seu lado. Mesmo que você saiba de cabeça tudo o que vai acontecer, você não vai dar margem pro azar de ter um daqueles brancos inexplicáveis que podem prejudicar seu encontro. Ah, e se você estiver trabalhando com um apoio, essa pessoa também deve ter ao seu lado a mesma agenda, é claro.
  • Um artista e sua banda ensaiam exaustivamente antes de se apresentar. Na minha pesquisa sobre preparativos para um show, eu li um artigo que sugeria ao músico que praticasse tocar a sua parte de diversas maneiras: rápido, devagar, na escuridão total, parado, caminhando, com algum barulho de fundo, tudo isso pra que ele tenha certeza de que a música já está “no sangue”. Para o facilitador, esse conselho é bastante útil. Não precisa falar caminhando ou treinar com um barulho de fundo, mas é necessário saber muito bem o que vai ser dito em cada momento do encontro. E não somente o quê, como também, a forma como o conteúdo será passado. Decorar mesmo. Eu já ouvi algumas pessoas falarem que não gostam de fazer isso porque perdem a espontaneidade. Mas a espontaneidade só vem porque o conteúdo está muito bem sabido.
  • Bandas fazem pelo menos um ensaio “como na vida real”, com figurino, paradas, o que será dito entre as músicas, o que será o bis, para ter uma boa ideia do “todo” e para fazer ajustes finais. Eu sempre faço um ensaio geral antes do workshop. É uma forma de verificar pontos de melhoria e afinar a participação da pessoa que faz o meu apoio. Nesse ensaio, eu conecto um segundo computador ou meu telefone como se fosse um participante, envio perguntas pelo chat e simulo participações. Gravo e assisto tudo em seguida. Gosto de fazer esse ensaio na véspera, pra ficar com tudo bem fresquinho na minha mente. Isso me deixa bem mais à vontade para conduzir o encontro.
  • Num dos 34 itens daquela lista de recomendações que eu comentei mais cedo, o profissional, que devia ser um guitarrista, falava sobre a importância de ter uma guitarra extra, cordas para trocar em caso de alguma arrebentar, um cabo a mais e por aí vai. É o famoso “plano b”. O que seria o plano b para um facilitador? É aquele exercício que você pode usar para substituir um outro porque você acha que vai ser mais adequado para aquele público. Ou aquela atividade que você pode excluir – ou adicionar – para cumprir o tempo previsto. Esse planejamento precisa estar muito claro na sua cabeça – e anotado na sua agenda, claro!
  • Um outro ponto importante do preparo é conhecer o público. Você já assistiu a show de alguma banda internacional em que o vocalista grita algo como “Boa noite, Brasil” ou “obrigado” e a plateia vem abaixo? E quando eles tocam alguma música nossa? (geralmente é a mais que batida garota de Ipanema, mas o público se acaba, né?). Além de aprender alguma música e um pouco do idioma local, existem bandas que fazem ajustes na programação das músicas de acordo com a localidade em que vão tocar. Dedicar tempo a esse conhecimento do público contribui para que o artista conquiste essa audiência. Eu gosto de ter à mão a lista dos participantes do meu workshop e, sempre que possível, eu mando uma pesquisa a esses participantes alguns dias antes. Nessa pesquisa, eu levanto alguns pontos do perfil deles e pergunto sobre desafios que eles podem estar enfrentando dentro do tema que eu vou tratar. Isso pode influenciar a atenção que eu vou dar a alguma passagem específica do meu roteiro. Esse conhecimento prévio me é útil também para trazer exemplos que tenham relevância à realidade daquele grupo. É o meu momento “Garota de Ipanema”, eu diria. Em tempo: conhecer o público é importante para engajar a audiência e eu vou explorar sobre formas de engajamento no próximo episódio.

Essa lista foi elaborada pensando em uma facilitação virtual (mas se você der uma lida pensando em um evento presencial, não há muita diferença). Eu acho que vale olhar com calma pra ela quando você estiver pronto para apresentar seu workshop. Ela poderá te ajudar a evitar algumas surpresas desagradáveis e ainda vai contribuir para que você se divirta bastante durante o seu workshop. Quanto mais preparado você estiver, melhor será a sua experiência e maior será aprendizado dos seus participantes.

Voltando ao caso que eu contei no início. Pra quem não sabe, eu tava falando do Elton John. Ele narra essa passagem na sua autobiografia e esse concerto ficou famoso, não somente pelo seu sucesso e grandiosidade, como pela fantasia do Pato Donald. Basta digitar no youtube Elton John e Central Park que você encontra o show na íntegra. A primeira música do bis é “Your Song”. O show todo é maravilhoso!

Terminamos “preparo” por aqui. E, no próximo e último episódio, falarei sobre “engajamento”.

Eu quero saber mais das suas sugestões feedbacks! Eu tenho ideias para algumas outras séries, mas prefiro dedicar tempo a algo que faça sentido pra você. Conta pra mim sobre o que você gostaria de saber mais. Se for um tema que eu conheço, compartilho contigo a minha visão. Basta enviar um e-mail para dicasparaworkshops@foconoaprendiz.com.br

Até a próxima!