Podcast Habilidades de um Facilitador Virtual: Episódio 2 – Presença

Se você preferir escutar em vez de ler o artigo, clique acima.

Então… nos encontramos de novo, que bom! Este é o segundo episódio dessa série sobre facilitação em workshops virtuais e, se você chegou agora, eu sugiro que procure escutar os dois primeiros podcasts, pra entender o que me trouxe aqui e ter uma visão completa da série.

Esta série é sobre as quatro habilidades que um facilitador precisa apresentar para atuar no ambiente virtual. Eu li sobre elas no livro Interact and Engage, da Kassy Laborie (você pode encontrar o link para o livro no blog) e aqui, eu vou falar sobre elas, sempre complementando com um pouco da minha experiência. Só lembrando: as quatro habilidades são:

  • Agilidade técnica
  • Presença
  • Preparo
  • Engajamento

O episódio anterior foi dedicado a Agilidade Técnica. Neste, vou falar sobre presença.

Se você viajou de avião entre 1976 e 2013, deve se lembrar da “voz do aeroporto”. Iris Lettieri foi, por muitos anos, a voz que anunciava partidas e chegadas de voos em diversos aeroportos, como o Santos Dumont e o Internacional do Rio de Janeiro e também os de Congonhas e Guarulhos em São Paulo e uns tantos mais. Iris foi a voz oficial desses aeroportos e muitos associavam o seu timbre aveludado e até meio sensual a viagens nacionais e internacionais.

Eu não sei se você conhece ou não a voz da Iris, mas se você quiser conhecer – ou é do grupo que conhece, mas está com saudades – eu te digo que ela ainda está ativa aqui no Rio de Janeiro. Onde? Eu conto pra você onde já já, no final deste episódio.

Por que eu estou falando da Iris Lettieri? Porque ela marcava uma presença nos aeroportos. A nossa voz, durante um engajamento virtual é um dos instrumentos mais importantes que temos que trabalhar. E você não precisa ter uma voz privilegiada como a da Iris para que sua presença seja marcante num workshop. O que você precisa é saber utilizá-la da melhor maneira. Existem várias formas de valorizar a sua voz e garantir essa presença no ambiente virtual.

Vamos a algumas delas.

  • Clareza: sua dicção precisa ser clara. Eu encontrei um vídeo de uma doutora em fonoaudiologia, a Camila Loiola, que dá algumas dicas sobre como fazer sua voz soar bem. Um dos exercícios que ela propõe é falar com uma rolha entre os dentes, para fortalecer sua musculatura facial. É meio chatinho, mas vale tentar!
  • Além de bem articulada, sua fala precisa ser livre de vícios de linguagem. Nada de “né?”, “beleza?”, “tá?” e outras tantas “muletinhas”. Esses vícios, que podem distrair o público do assunto central, tendem a aparecer mais quando não estamos muito preparados sobre o que vamos falar, pelo menos, no meu caso é assim. No mesmo canal da Camila Loiola, eu encontrei um vídeo que fala sobre isso. Vou deixar o link dela no meu blog e na descrição deste podcast. Mas uma boa forma de acabar com esses “enchimentos” é se acostumar a dar pausas ao final das frases. Tente fazer isso: toda vez que você sentir vontade de falar um “entendido?”, “ok?” “tá claro?”, dá uma pausa. Funciona.
  • Ainda sobre qualidade da sua fala, você pode trabalhar também o que eu chamo de “colorido” da sua voz. Estou falando de entonação, ritmo e ênfase. Uma maneira de enriquecer o que você está dizendo é “modular” a sua voz, trabalhar a entonação. Modular é como colocar um pouco de música na fala. A gente faz isso naturalmente, quando está conversando de maneira descontraída. Quando a situação é mais formal, a tendência é esquecer de explorar essa entonação. Uma boa forma de entender do que eu estou falando é escutar um ator lendo e interpretando um texto. Eu vou deixar no meu blog um link de um vídeo da Fernanda Montenegro lendo um texto de Nelson Rodrigues e eu recomendo que você escute esse vídeo de olhos fechados. Você vai perceber que em alguns momentos ela joga a voz dela para um timbre mais grave e em outros, a voz dela é mais aguda. Isso dá um tempero ao que está sendo dito.
  • Você também pode “temperar” o seu discurso alterando o ritmo, acelerando ou ralentando as suas palavras. Isso também contribui para a qualidade do que você está dizendo.    E o último ponto desse item que eu chamo de “colorido” é ênfase. identifique quais são as palavras mais importantes do seu texto e dê um peso diferenciado a elas. Você pode ainda dar uma breve pausa antes de falar essa palavra. Faz muita diferença.
  • A qualidade da sua voz também depende de um bom microfone. Ele não pode gerar ruídos de estática ou mau-contato. Uma coisa que eu não recomendo fazer é usar o microfone embutido do seu computador. Ele até pode ser bom para uma chamada rápida, mas não para um workshop.
  • Considerando que você está usando um bom microfone, cuide para eliminar ruídos de fundo, porque eles comprometem a qualidade do seu texto. Tire o cachorro ou o gatinho da sala, especialmente se eles forem muito comunicativos… Verifique se o ruído de aparelhos como o ar-condicionado ou ventilador é captado pelo seu microfone, porque isso também pode prejudicar o seu som.

Falei bastante sobre voz. Mas ainda tem mais… Porque nem tudo é som. Você precisa lembrar que está também diante de uma câmera. Então, o visual também é um ponto de atenção. Sobre imagem, eu trago alguns comentários.

  • Sorria e olhe para a lente. Sorrir vai influenciar a qualidade da sua entonação e tornar você mais simpático diante da sua audiência. E seu olhar não pode estar nem na tela nem nos participantes, mas na lente da câmera, senão vai parecer que você está com um olhar perdido. Nada engajador.
  • A roupa que você usa também influencia sua imagem. Você pode estar calçando chinelos e usando uma bermuda, mas a parte da sua roupa que aparece na câmera, deve ser profissional. Use uma blusa que você usaria em uma reunião de trabalho. Cuidado com listras e estampas, que às vezes não funcionam bem na câmera. Ah, e verifique se seu cabelo, barba, maquiagem estão ok.
  • Outro cuidado que você deve ter é com o posicionamento e iluminação. Posicione-se adequadamente diante da câmera. Nem muito perto, nem muito longe. Atenção pra quem usa laptop: a lente do laptop fica um pouco abaixo da altura dos nossos olhos e isso prejudica a imagem. Eu, por exemplo, uso a câmera do meu laptop. Para que o meu enquadramento funcionar, eu preciso ter ele apoiado de modo que ele fique mais alto. Pra acertar o enquadramento, pensa que entre o topo da sua cabeça e o limite superior da imagem deve haver a distância de um palmo da sua mão fechada. Assim, deverão ficar visíveis a sua cabeça e seus ombros.
  • Acontece às vezes de o facilitador estar bem enquadrado, mas com uma iluminação equivocada. A luz precisa estar atrás da câmera e apontada para você, usar somente a luz do teto faz a gente ficar com cara de cansado. Ah, e cuide para que não haja uma janela ou luz forte atrás de você, senão fica aquela luz estourada atrás da sua imagem parecendo que uma janela para o céu se abriu. Bela imagem em termos de metáfora, mas péssima visualmente, porque isso faz com que sua cara fique totalmente sombreada.
  • E, por último, cuide do fundo da sua imagem. Nada de tralha, bagunça, gente passando atrás de você, porque isso fica feio e distrai a atenção do seu público. Outro dia, tava assistindo a um tutorial no youtube e atrás do youtuber havia um monte de quadrinhos. Tinha um quadrinho torto. Eu não conseguia tirar o olho de lá. Seu fundo deve ser limpo.

Tendo ciência de todos esses pontos, a pergunta que fica é: como saber se tudo isso está sendo tratado adequadamente. As minhas recomendações aqui não são muito diferentes das que eu já dei em alguns outros posts e workshops sobre o assunto. Mas vamos lá:

  • Observe outras pessoas. Assista a webcasts e treinamentos, com um olhar de observador. Veja o que você gosta e o que você não gosta no estilo dessas pessoas. Considere se é interessante adotar alguns desses recursos na sua forma de apresentar.
  • Tendo escolhido seu estilo, prepare-se. Ensaie. Quando você achar que estiver tudo ok, ensaie de novo. Preparo, que por sinal, é o tema do próximo episódio, é o que vai fazer você soar natural.
  • E a melhor forma de saber como você está indo em termos de presença é gravar a si mesmo. Você só vai entender a qualidade da sua fala, entonação, enquadramento e outros dos pontos que falei aqui quando você se assistir em uma situação real. Existem plataformas que permitem gravar uma apresentação. Eu recomendo fortemente esse recurso.    Antes de fazer meu primeiro workshop online, eu fiz um ensaio “a vera” e, quando me assisti, fiquei chocada com o quão antipática eu era em cena, como eu usava palavras repetidas e às vezes até de forma equivocada. Por sinal, foi assim que eu descobri que precisava fazer várias correções, como apoiar meu laptop em uma base e direcionar uma luz para o meu rosto. Sempre que eu vou fazer um workshop online, eu faço um ensaio geral e me gravo

Aliás…. Sobre o tema gravação… eu lembro que eu recomendei no episódio anterior que você se gravasse em uma breve apresentação. Se você fez isso, eu sugiro agora que você volte àquela gravação e se avalie nesses itens que eu comentei aqui. Lembra que não é pra se achar horrível. É pra se avaliar tanto no que você acha que funciona como no que pode melhorar, ok? Aí, grava de novo. Tenho certeza de que muita coisa vai ficar melhor.

Acho que já falei bastante sobre presença. Todos esses pontos contribuem para que você melhore, cada vez mais, sua presença em uma interação virtual. Com o que eu falei aqui, você já tem um bom número de coisas pra considerar quando estiver se preparando para o seu próximo workshop.

Ah, e voltando à Iris Lettieri. Eu fiquei de dizer onde ainda é possível escutar a sua voz tão marcante. A famosa “voz do aeroporto” pode ser ouvida agora no BRT do rio de Janeiro, anunciando as estações.

Fica aqui o meu convite para acessar o meu blog www.foconoaprendiz.com.br, onde você vai encontrar alguns links que eu citei aqui.

Você também pode me mandar seus comentários, perguntas e feedbacks pelo e-mail dicasparaworkshops@foconoaprendiz.com.br.

A gente se encontra então, no próximo episódio, que vai ser sobre “preparo”.

Até lá!

Referências:

Livro “Interact and Engage”- Kassy Laborie e Tom Stone

Camila Loiola falando sobre como melhorar a sua voz

Da Camila também, sobre vícios de linguagem

Fernanda Montenegro

Para quem quiser ouvir a Iris Lettieri