Podcast Habilidades de um Facilitador Virtual: Episódio 4 – Engajamento

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O que há em comum entre

  • Um evento de co-criação com o uso de ferramentas de Design Thinking
  • Um workshop dedicado a provocar reflexões sobre nossas escolhas diante de crises e conflitos e
  • Um encontro para falar sobre escrita afetiva

Esses três encontros aconteceram para atender a objetivos completamente diferentes, mas todos têm dois aspectos em comum

1. Foram realizados de forma virtual e

2. Proporcionaram experiências extremamente engajadoras aos seus participantes.

Já vou comentar os exemplos sobre os quais falei e ainda tenho um quarto exemplo meu para compartilhar. Mas antes, eu vou fazer uma pergunta que eu quero que você responda com toda a sinceridade. Quantas vezes você já assistiu a algum evento online enquanto fazia alguma outra coisa, tipo checando e respondendo a seus e-mails ou mensagens de whatsapp ou visitando outros sites, fazendo as compras do mês ou algo parecido?

Que atire o primeiro smartphone quem nunca “multitarefou” enquanto o ser-humano do outro lado da tela estava animadão, compartilhando seus conhecimentos!

Eu confesso que já fiz isso. Eu já assisti a webinars e vídeos no Youtube enquanto fazia outras coisas. O mais bizarro é que eu me lembro de já ter feito isso, mas realmente não lembro em que circunstâncias: Se alguém me perguntar: sobre o que era o webinar? E o que eu estava fazendo? Não tenho a menor ideia… Ou seja: Uma total perda de tempo, disfarçada de ilusão de ser multitarefa.

Há tempos eu já desisti de me enganar dessa forma. Agora, quando eu resolvo assistir a algum workshop ou webinar virtual eu dedico 100% da minha atenção ao que está sendo transmitido. Esse tipo de multitarefa, em que você precisa ter sua atenção em duas coisas diferentes, não funciona.

Mas eu não estou aqui para falar sobre multitarefa. Eu vou falar sobre engajamento, a quarta habilidade de um facilitador virtual.

Lembrando que as outras três são: Agilidade Técnica, Presença e Preparo. Essas habilidades, sobre as quais já falei em episódios anteriores, são fundamentais para o engajamento da sua audiência. Mas neste episódio, vou falar sobre algumas formas de proporcionar engajamento ao longo do seu encontro virtual, para que sua audiência não sinta vontade de checar os e-mails ou o whatsapp.

Pra tratar desse tema, eu pedi a alguns conhecidos que compartilhassem comigo exemplos de uma boa experiência em workshops ou reuniões virtuais. E, com base no que eu ouvi, conto pra você 3 situações. Vamos lá!

A primeira situação foi vivida pela Andréa, que participou de um workshop de 8 horas junto com um grupo de profissionais da empresa onde ela trabalha para contribuir em um processo de co-criação utilizando ferramentas de Design Thinking. Se alguém me convidasse pra participar de um encontro desses um ano atrás, antes do momento quarentena, e me dissesse que seria conduzido por meio de uma reunião virtual, eu diria que seria, no mínimo, muito difícil que desse certo. Mas este foi um sucesso. Não só pelo resultado obtido, mas porque o responsável por conduzir o encontro era um profundo conhecedor da ferramenta e conseguiu manter todos conectados ao longo das 8 horas do encontro. Entre outras estratégias, a Andrea me contou que ele usou recursos gráficos para explicar suas ideias e orientar os exercícios. E quando eu falo “recursos gráficos”, não estou me referindo a nada super sofisticado. Ele usou a ferramenta de quadro branco, que pode ser encontrada em diversas plataformas, como o Zoom e o Teams, por exemplo. O quadro branco faz as vezes de um flip-chart no ambiente virtual.

Então, aí vai uma dica. Use o quadro branco. Ele é muito útil quando você quer construir um conceito diante dos olhos de sua audiência.

A segunda situação me foi contada pela Ana Paula. Imagina participar de um workshop dedicado a aprofundar em temas de vida e carreira, tomando como base a jornada do herói. O tema é bastante profundo e as chances de haver dispersão são grandes. Mas não foi o que aconteceu com a Ana. No caso dela, o engajamento já começou antes do encontro, quando ela recebeu um texto provocativo, já dando algumas ideias do que iria ser trabalhado. Durante o encontro, ela pode participar de diversos exercícios, com perguntas bem formuladas e apresentadas de forma clara e oportuna. Tudo isso contribuiu para que sua experiência com o evento excedesse as suas expectativas. Usando aqui as palavras da Ana: “Quando se consegue juntar uma apresentação bacana com um tema diferente e a possibilidade de interagir e participar, há um sentimento de que você está construindo junto. Ter que refletir e contribuir em tempo real me fez sentir desafiada, muito mais que uma mera ouvinte.” Conseguir esse nível de engajamento depende da construção do material, claro. Conteúdo é muito importante na qualidade de um workshop. Mas saber fazer perguntas e criar oportunidades para que o público possa refletir e participar é, sem dúvida, uma forma bastante eficiente de criar engajamento, impactar pessoas e promover aprendizagem. Então, resumindo este exemplo, aqui vão mais duas dicas. Primeira: envie com antecedência um material que instigue a curiosidade de seus participantes e segunda: elabore perguntas que busquem aprofundamento do tema.

O terceiro exemplo vem também de uma pessoa chamada Andréa. Essa Andréa participou de um encontro sobre escrita afetiva e disse que se sentiu super engajada quando o palestrante garantiu que todas as perguntas seriam respondidas, porque para ele, compartilhar conhecimento era uma missão. “Ele me ganhou quando disse isso”, foi o que a Andrea me contou. O mais importante: A promessa foi cumprida. Ninguém ficou com sua pergunta pendente. A Andrea conta que o evento durou uma hora e meia no total e ela nem viu o tempo passar. A dica aqui seria: abra seu workshop criando expectativas que você possa cumprir.

Outras técnicas que você pode usar para buscar mais engajamento:

  1. (UM) Engaje desde o início. Ofereça alguma atividade já na chegada dos seus participantes, como uma enquete ou atividade que os façam se sentir contribuindo desde o primeiro momento. Se o grupo for grande, uma enquete ou uma pergunta para ser respondida pelo chat funciona bem. Se for um grupo pequeno, de até 10 pessoas, você pode pedir que as pessoas respondam ou participem falando.
  2. (DOIS) Uma coisa para NÃO fazer. Não fique falando por minutos sem fim. Pense em criar atividades que gerem participação a cada 4-5 minutos. Mas lembra que essas atividades precisam ter uma forte relação com os objetivos de aprendizagem do seu evento.
  3. (TRÊS) Se você precisar aprofundar uma discussão, divida seu grupo em subgrupos, de 3 a 5 pessoas e dê um temo para que as pessoas possam pensar em respostas. Há várias plataformas que permitem isso.
  4. O quarto ponto que eu tenho pra compartilhar também é: Use os nomes das pessoas. Em workshops virtuais você pode ser mais diretivo. Em vez de perguntar: “alguém quer contribuir?”, você pode dizer: “Fulano, qual sua opinião sobre esse assunto?”. Um cuidado somente: evite perguntas que testem conhecimento, para não gerar uma exposição desnecessária. Se que você faz uma pergunta que o participante não souber responder, corre o risco de deixar todos os demais pilhados, achando que também ser~ao sabatinados e expostos diante de todo o grupo.

Agora, vou tentar corresponder a um feedback que eu recebi, pedindo que eu relatasse mais histórias minhas. Então, vou contar uma experiência que eu vivi como participante e não como facilitadora, e fala sobre criar engajamento por meio de um jogo. E aí vai o meu exemplo. Eu canto em coral. É uma maneira de satisfazer meu lado “artístico”. Acontece que o segmento de corais, como tantos outros, sofreu bastante com o afastamento social. Coral é construção em grupo, você precisa ouvir o coleguinha pra poder cantar a sua parte. Mas não existe plataforma nem banda larga aqui no Brasil que permita cantar de forma simultânea. Mas um coral que não se reúne tende a perder seus integrantes. Eu faço parte de um grupo chamado “Coro da Ladeira”. A primeira solução que o regente desse coro encontrou para manter todos reunidos foi fazer um ensaio virtual, em que ele tocava cada uma das as partes para que os integrantes pudessem escutar e praticar em suas casas. Mas todos tinham que ficar com seus microfones em modo “mudo”, senão seria mais ruído que música. Acontece que isso estava deixando tudo meio desanimado, até que o regente teve a ideia de criar uma gincana, em que ganhava pontos quem abrisse seu microfone e cantasse a sua parte para todos os outros. O clima do ensaio mudou completamente. Quem cantava sua parte recebia feedbacks construtivos, o que ajudou para que outros cantores pudessem esclarecer suas dúvidas.

Existem diversas formas de gerar engajamento. Eu citei algumas e poderia ainda pensar em muitas mais. Mas vou parando por aqui, senão, este episódio vai ficar com uma hora de duração, e ninguém merece, né?

Eu termino aqui esta série sobre engajamento em ambiente virtual. Fico feliz que você a tenha acompanhado até o fim e realmente espero que você tenha aproveitado e aprendido e tentado coisas novas a partir do que eu compartilhei aqui. E fica ligado: Vem mais coisa por aí!

Ah, e aí vai a minha participação (ou o meu mico) na gincana do Coro a Ladeira, já garantindo pontos para os contraltos!

Até a próxima!

Referências:

Livro “Interact and Engage”- Kassy Laborie e Tom Stone