De uma hora pra outra, nós nos vimos mergulhados no mundo online. Viramos facilitadores ou participantes de alguma ação virtual, sejam reuniões, aulas ao vivo, webacasts, lives e por aí vai. É comum eu escutar de vários colegas da área que ou estão reformulando seus workshops presenciais para que possam ser ofertados online ou estão tendo que criar, do zero, soluções que serão disponibilizadas no ambiente virtual.
Se você também se encontra nessa situação e quer um pouco de ajuda, eu acho que posso dar um apoio, porque venho estudando bastante esse tema e quero compartilhar com você o que aprendi sobre o que é importante desenvolver para poder facilitar online de forma eficiente.
Pra falar sobre habilidades que precisam ser desenvolvidas pra ter sucesso no ambiente online, eu vou usar o modelo que eu vi no livro Interact and Engage, da Kassy Laborie. Eu vou deixar a referência do livro e do site dela ao final deste texto.
Segundo essa autora, as quatro habilidades necessárias para um facilitador online são:
- Agilidade técnica
- Presença
- Preparo
- Engajamento dos participantes
Todas são igualmente importantes, não existe uma hierarquia, mas eu vou falar de uma habilidade por vez.
Vamos entender melhor a primeira habilidade da lista: “Agilidade Técnica”.
Quando eu penso em agilidade técnica, o que me vem à mente é o ato de dirigir um carro. Todo mundo que hoje é confortável ao volante já passou por seu momento de aprendizado. Eu lembro de quando eu comecei a dirigir. Eu tirei minha carteira de motorista com uns 20 anos, mas só fui dirigir mesmo quando estava com 30 e poucos. Foi quando eu consegui uma oportunidade para dar aula em uma universidade que ficava muito longe do meu trabalho e da minha casa e ter um carro fazia muita diferença. Raspei minhas economias e comprei um carrinho pra mim. E foi aí que eu vi o quanto eu não sabia dirigir.
Minhas primeiras semanas ao volante foram uma tortura. No primeiro dia que eu fui com meu carro para a universidade, eu tentava olhar ao mesmo tempo: pra frente, pra todos os espelhos, e ainda pro velocímetro, pra saber quando eu deveria mudar de marcha. Eu lembro de ter chegado ao estacionamento da Universidade toda suada e exausta de tanta tensão. E lembro também que havia uma rampinha na entrada, onde a gente precisava se identificar. Eu parei, me identifiquei e recebi a autorização pra seguir adiante. Engatei a primeira e, quando acelerei… O carro caiu!! Eu esqueci de puxar o freio de mão, tinha ficado segurando o carro só no pé. O carro não só caiu: quebrou o farol do carro do professor que estava atrás de mim… E essa foi só uma das barbeiragens que fiz nos meus primeiros quilômetros de experiência atrás do volante…
Hoje em dia, muitos anos depois, eu nem me dou conta dos movimentos que faço para me levar de um local a outro de carro. Eu até gosto de dirigir… e enquanto dirijo, eu converso, ouço notícias ou um audiolivro, aprecio a paisagem…
Eu imagino que a minha história na direção não seja diferente da de muita gente. Enquanto a gente não domina a técnica, ela consome boa parte da nossa energia. No meu caso, eu diria que essa falta de domínio me fazia sofrer. E muito.
Esse meu processo de ganhar confiança na direção me veio à lembrança porque facilitar um workshop virtual exige, entre outras coisas, que você domine muito bem o ambiente técnico que ele envolve.
Como é que a gente sabe se um facilitador apresenta essa agilidade técnica? Alguns exemplos:
- Ele consegue conduzir a reunião e ao mesmo tempo atender aos sinais da sua audiência, como comentários no chat e mãos levantadas.
- Ele transita facilmente entre as ferramentas da sua plataforma, enviando links e outros materiais pelo chat sem comprometer o ritmo da sessão.
- Se ele vai utilizar algum recurso – como uma anotação na tela, ou trocar a apresentação, – ele o faz com tanta naturalidade, que o grupo não perde o foco do assunto. E…
- … se algo dá errado (porque a gente sabe que sempre há esse risco, né?) o facilitador consegue manter a calma para resolver a questão.
O que fazer para chegar rapidamente a esse nível de tranquilidade é meio óbvio: dedicar tempo e praticar. Eu levei algumas boas horas e quilômetros no volante pra conseguir me sentir à vontade e até encontrar prazer no ato dirigir. Se você quer buscar um maior domínio do seu ambiente técnico, eu tenho 4 dicas, coisas que eu já fiz – e ainda faço, pra dizer a verdade:
- Primeira dica: Conhecer a sua plataforma. Como? Ler artigos e assistir a tutoriais é um bom começo. Existem diversos blogs e canais no Youtube ensinando truques e quebra-galhos para tirar o melhor proveito da maioria das plataformas. Outra maneira de conhecer a sua plataforma é metendo a mão mesmo. Aperte os botões, teste os recursos pra ver o que acontece.
- Segunda dica: Você também pode simular uma reunião. Pegue o seu computador e o seu telefone e tente realizar uma reunião em que você facilita pelo computador e conecta seu telefone como participante. Isso vai dar a você uma noção de como a sua audiência visualiza o que você está apresentando.
- Terceira dica: Convide um pequeno grupo de pessoas em quem você confia e faça um teste com elas.
- E a última dica: Grave. A melhor forma de aprender é ver a si mesmo. Pode ser um pouco desconfortável no início, mas o aprendizado é incrível. Antes de colocar um workshop no ar, eu gravo várias vezes. Quando eu faço isso, consigo não somente praticar o conteúdo, mas também me preparo melhor para utilizar os recursos, seja liberar uma enquete, usar uma ferramenta de desenho ou compartilhar um link que eu queira compartilhar pelo chat.
Um facilitador pode conduzir um encontro virtual sem ter agilidade técnica? Pode, claro que pode. Eu já participei de um encontro em que dava pra perceber que o facilitador era muito fera no assunto – e eu aprendi bastante com a experiência. Mas ele não demonstrava ter o mesmo nível de domínio da ferramenta. Na minha percepção, isso enfraquece a mensagem principal, porque o participante pode deixar de prestar atenção ao que está sendo dito enquanto o facilitador está tentando abrir o Powerpoint, ou lutando pra colocar no ar uma enquete, ou tentando descobrir como habilitar as anotações na tela, ou como apagar as anotações que foram feitas. Enfim, se você não dominar a técnica, vai chegar lá, mas provavelmente chegará estressado e ainda pode deixar o carro cair na rampa e quebrar o farol do carro de trás.
Resumindo: Eu tenho certeza de que você tem um material de qualidade para conduzir seu workshop, mas sua facilitação precisa estar à altura desse material. E parte dessa qualidade da facilitação se reflete na tranquilidade com que você transita pelos recursos da sua plataforma, para obter o máximo dela.
No próximo episódio, vou falar sobre a importância da sua presença como facilitador em um workshop.
Enquanto isso, se você quer desenvolver suas habilidades como facilitador no ambiente virtual, eu proponho um exercício: prepare uma apresentação bem curta, de 5 a 10 minutos no máximo, sobre um assunto que você domine muito bem. Qualquer coisa: um filme, um livro, alguma coisa que aconteceu na sua vida… o assunto não importa, desde que você tenha bastante conhecimento. Depois, simule uma apresentação online e grave. Você pode usar qualquer plataforma. Algumas inclusive têm esse recurso de gravação. Se quiser deixar o exercício mais desafiador, crie alguma atividade, passe um link pelo chat, use as ferramentas que disponíveis na plataforma, como o quadro branco, por exemplo. Depois, assista a essa gravação e se avalie.
Agora, cuidado para não ser muito duro com você mesmo. Veja os pontos de melhoria, mas encontre seus pontos positivos. Você vai se surpreender com o quanto você pode aprender com essa gravação. E ela pode servir também para o tema do próximo episódio.
E se você quiser mandar comentários, feedbacks e perguntas, manda pelo e-mail dicasparaworkshops@foconoaprendiz.com.br
Até o nosso próximo encontro!
Referência:
Interact and Engage! Kassy Laborie and Tom Stone