Dia 3 de fevereiro de 2020, segunda-feira. No meu primeiro dia de trabalho após 20 maravilhosos dias de férias com minha família, fui comunicada sobre o meu desligamento. Em poucos dias, eu iria completar 7 anos de experiência nesse empregador, onde eu atuava como Gerente de Aprendizagem e Desenvolvimento Organizacional.
Ao me comunicar sobre o meu desligamento, a minha gestora iniciou a abordagem comentando que, por eu ser uma pessoa muito discreta e fechada, ela, que havia assumido sua posição há 6 meses, não sabia se eu estava “triste ou feliz” com a condução da área de RH, que estava passando por muitas mudanças desde então. Sobre se eu estava triste ou feliz, eu vou responder mais adiante. Porque o objetivo deste relato é explicar o que me levou a começar este projeto.
Voltando ao assunto: eu tinha um forte pressentimento de que meu tempo no meu ex- empregador estava chegando ao fim. Os sinais eram claros: minha caixa de e-mails estava com um volume muito abaixo do seu normal, as demandas que chegavam à minha área eram superficiais e sem uma visão clara de futuro, as minhas propostas de projetos para contribuir com o novo posicionamento, mantidas em suspenso. Lendo os sinais, eu tomei uma decisão. Antes de sair de férias, escrevi uma carta a mim mesma. Para ser lida no momento em que eu fosse desligada.
Essa carta começava com algumas palavras de incentivo de mim pra mim mesma e seguia com um plano de ação detalhado sobre próximos passos. A ideia era me ajudar a olhar pra frente e não ficar parada sem saber pra onde ir.
O plano começava com o que eu deveria fazer
- No dia da comunicação do meu desligamento
- No dia seguinte da comunicação – o que acabou me levando a intitular o documento como “day after”
- E seguia com algumas alternativas pra seguir adiante. Porque, se tinha alguma coisa que estava muito clara pra mim era que uma recolocação no curto prazo não seria fácil.
Para o dia da comunicação do desligamento, a carta tinha:
- Uma mensagem de despedida, com conteúdo e destinatários prontos.
- Um bom rascunho para um post no Linkedin, em português e em inglês.
- Um lembrete para comunicar a família (mãe, irmãs, sobrinhos) pelo grupo do Whatsapp.
- Uma orientação pra que, quando eu saísse do escritório, fosse fazer alguma coisa boa, como ir ao cinema ou almoçar num lugar muito bom.
Para o dia seguinte, eu havia planejado
- acordar às 6 horas.
- Ir à academia ou dar uma corrida
- entrar em contato com uma lista de pessoas que eu já havia selecionado para agendar um bate-papo, ou seja, trabalhar meu networking
Na lista de planos alternativos, eu dei uma viajada. Comecei a pensar em tudo o que eu gostava de fazer e como isso poderia se reverter em oportunidades profissionais para mim.
A carta foi muito útil. Eu segui o que estava planejado tanto para o dia do desligamento quanto para o “day after”.
E tenho cumprido na minha lista de planos alternativos.
Um dos itens da lista era seguir com uma ação que já estava em andamento, que era a minha preparação para obter uma certificação internacional da Associação de Talento e Desenvolvimento, a ATD. O foco no curtíssimo prazo seriam os estudos. E isso me levou a combinar a necessidade de estudar à minha vontade de ajudar pessoas com interesse na área de aprendizagem.
É nessa linha que tenho investido. Desde o dia seguinte ao meu desligamento até agora, a maior parte da minha energia tem sido direcionada para transformar meus estudos em ações que possam ajudar outras pessoas. E o que aconteceu nestes últimos 4 meses, desde que virei desempregada até agora?
Bom, eu já vou adiantando que não tem entrado dinheiro, mas eu também havia me preparado para isso. Fiz minhas contas e estabeleci um horizonte ao longo do qual consigo sobreviver sem mexer nas minhas economias. Então, aqui vai um resumo do que eu tenho feito recentemente.
- Elaborei três esqueletos de workshops: um para falar sobre aprendizado de adultos, um para formação de novos líderes e um sobre técnicas de facilitação. Todos surgiram como resultado do network que tenho realizado. Possíveis demandas, eu diria. Estão todos em compasso de espera, por causa da quarentena. Se vão vingar, não sei. Mas se não vingarem conforme a demanda original, já tenho algumas ideias do que fazer com eles.
- Liguei pra duas amigas e fiz uma proposta, que elas aceitaram. Escolhemos em conjunto um filme para assistir e, a partir de nossas reflexões, cada uma de nós elaborou um material usando esse filme como pano de fundo para explicar algum conceito de RH. Aí, cada uma de nós facilitou uma sessão virtual para as outras duas. A ideia era nos ajudar mutuamente a praticar nossas habilidades em facilitar utilizando a plataforma Zoom e proporcionar um desenvolvimento em conjunto. Além disso, como ninguém é de ferro, um pouco de descontração. Os encontros, que ainda estão acontecendo, são no estilo happy-hour, cada uma com sua bebida de preferência ao lado.
- Meti a cara no tema “ambiente virtual” e elaborei um workshop para falar sobre boas práticas de engajamento em reuniões a distância. Já realizei três desses encontros para profissionais da área.
- Elaborei dois materiais de apoio sobre reuniões virtuais: um e-book com 11 exercícios e um check list para ajudar na preparação.
- Entrei em um grupo voluntário, formado por profissionais de RH, cujo objetivo é auxiliar na recolocação de profissionais que perderam suas posições como consequência do COVID 19.
- Escrevi 9 artigos no Linkedin.
- Cantei em 7 corais virtuais.
- Comecei um blog, do qual este podcast faz parte
Eu espero que este podcast tenha utilidade para profissionais como você, que se interessam pelo tema. Eu já vou falar sobre qual vai ser a primeira série, mas antes, eu vou voltar ao comentário sobre se eu estava feliz ou triste. Eu fui muito feliz profissionalmente durante os últimos 7 anos. Aliás, eu me considero uma pessoa que sempre foi, de uma maneira geral, feliz na sua vida profissional, assim como me considero feliz na minha vida pessoal. Mas nos últimos meses antes de sair do meu antigo empregador… não. Eu não estava feliz. E agora? No exato momento, embora esteja sem remuneração, eu estou feliz pra caramba no que estou fazendo. Tenho ideias novas quase todos os dias, assim como tenho tido a oportunidade de conhecer e interagir com pessoas incríveis, que têm me ensinado muito. E pretendo compartilhar todo esse aprendizado com você. Porque eu acredito que a riqueza do aprendizado decorre em grande parte do compartilhamento.
E o tema da primeira série vai ser habilidades de um facilitador virtual. Eu vou falar sobre quatro habilidades necessárias e como você pode fazer para desenvolvê-las.